De frente com o abandono
E o descaso não paira somente sobre a questão do esgoto doméstico. Em pleno século XXI, ainda nos deparamos com o total abandono de algumas localidades. Este o caso de Costa Lacerda, vila localizada entre a sede do município de Santa Bárbara e o distrito de Bateias.
Por lá residem cerca de 100 moradores, distribuídos em pouco mais de 30 casas. A única rua do lugarejo, com cerca de 600 metros, ainda não recebeu calçamento. O local não conta com tratamento de água e o devido recolhimento do esgoto, deixando os moradores suscetíveis ao risco de contaminação.
Os moradores de Costa Lacerda também não podem contar com praça de esportes, posto médico, creche ou escola em horário integral. O caminhão de lixo só dá as caras por lá uma vez por semana, enquanto que ônibus para a sede do município somente uma vez por dia, vindo lá do distrito de Bateias.
Por lá falta até Padre para celebrar as missas, já que a escola, local utilizado para a cerimônia, não é um dos mais adequados: ao lado funciona um bar, que atrapalha, e muito, o momento de fé.
Diariamente passam por lá dezenas de carros de empreiteiras, contratados por empresas que prestam serviço no local. Graças ao carregamento de madeira da Cenibra, de brita e dunito da Pedreira Um e o constante tráfego de vagões da mineradora Vale, tranqüilidade não é uma das características do lugarejo. Pelo contrário, os moradores enfrentam vários problemas devido à presença destas empresas.
A poeira, produzida no embarque de brita logo em frente às casas, além de trazer sujeira, colabora para a manifestação de doenças respiratórias, principalmente em crianças e idosos. Em vários momentos, o carregamento dos vagões provoca o bloqueio da passagem de nível da estrada principal.
A garotada, diante da inexistência de um local adequado para diversão, disputa com os trilhos e o constante tráfego de veículos de empresas, um espaço de pouco mais de 30m² para satisfazer o prazer de disputar uma partida de futebol, a popular “pelada”. E o pior: sujeitos a serem vencidos pelos carros ou vagões. Diante da preocupação constante com atropelamentos e poeira, alguns pais chegaram a improvisar barricadas no período de férias escolares.
Para os jovens o problema ainda é maior: falta oportunidade de emprego e a ociosidade predomina. Nada a fazer. Falta espaço de aprendizado e um local de divertimento sadio. Para Sabrina, uma simpática moradora de 18 anos, a desmotivação é causa de angústia. Para ela, que não acredita em mais nenhuma promessa, a família está abandonada naquele local.
E a opinião da jovem é compartilhada pelos outros moradores. Revoltados com a situação de abandono e desprezo com que são tratados, dizem que são procurados apenas na época das campanhas eleitorais. Depois? Voltam novamente ao esquecimento. Promessas são feitas, mas nada é cumprido.
É inadmissível que ainda nos deparemos com situações como esta. Os órgãos competentes, faltando com um compromisso ético e responsável, fazem vistas grossas e os seres humanos ali residentes vão sobrevivendo ao tempo. No caso de Costa Lacerda, o abandono é inevitável: a distância da sede do município faz com que poucos cidadãos santa-barbarenses possam presenciar os problemas ali enfrentados. Novamente, “o que os olhos não vêem, o coração não sente.” Pelo menos, até agora!
Este artigo é um pedido de atenção, em nome dos moradores da vila de Costa Lacerda, às órgãos públicos e, principalmente, às empresas Vale, Pedreira Um e Cenibra, diretamente responsáveis por vários dos problemas enfrentados pelos moradores do lugarejo. Acredito que elas podem, e devem, dar sua parcela de contribuição na elaboração e execução de um projeto de revitalização do local. Onde está o tão falado compromisso social das empresas, será que os responsáveis da administração pública estão cientes do problema?
Reportagem originalmente publicada no Jornal Impacto, Edição 141ª, 2ª Quinzena de Julho/2010. Texto de Viko Gomide.











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