Audiências públicas em Raposos e Caeté discutem a Mina Apolo, empreendimento da Vale

Postado por Grupo Ambiental de Santa Bárbara 11 de fevereiro de 2010 Comente!

Reportagem publicada pela Assessoria de Comunicação do Projeto Manuelzão, em sua edição online do dia 20 de janeiro de 2010.

Repórteres: Isadora Marques e Thais Marinho (Estudantes de Comunicação Social da UFMG)

Foto: Isadora Marques

A Serra da Gandarela, que faz parte do complexo do Espinhaço, fica entre a Serra do Curral e a Serra do Caraça. É uma região ainda preservada, com grande diversidade de fauna e flora e mananciais importantes para o abastecimento de municípios próximos. Mas o empreendimento que a Vale pretende implantar vai causar um grande impacto ambiental na região.

Na quinta e sexta passadas, dias 14 e 15, foram realizadas audiências públicas em Caeté e Raposos para discutir o assunto. Nos eventos, a Vale apresentou o Projeto Apolo, uma mina de minério de ferro na serra da Gandarela, nos municípios de Caeté, Raposos, Rio Acima e Santa Bárbara (leia mais na revista 54). O início das obras está previsto para 2011 e a mina, cuja vida útil estimada é de 17 anos, começará a ser explorada em 2014. O projeto ainda está em fase de estudo dos impactos ambientais, parte do processo de licenciamento ambiental que precede o período de implantação.

As audiências públicas foram solicitadas por instituições sociais, como o Projeto Manuelzão, e órgãos públicos, para que o empreendimento fosse apresentado e discutido com as comunidades. A apresentação que a Vale fez deixou algumas questões sem explicação. A empresa mostrou os estudos feitos e, a partir desse diagnóstico, concluiu que o projeto é viável. Mas viável com relação a quê? Do ponto de vista ambiental? Social? Econômico? Ela também afirmou que tentaria evitar ou minimizar os impactos ambientais, mas não esclareceu o que, de fato, será feito para isso.

Nos eventos, houve questionamentos por parte do público presente sobre o processo de realização das audiências. Ao invés delas terem sido realizadas em todos os municípios diretamente impactados, as reuniões aconteceram em apenas dois deles. A Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) ficou responsável por agendar novas audiências em Rio Acima, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Belo Horizonte. Apesar da mina não estar dentro dos territórios desses dois últimos municípios, eles também podem ser afetados negativamente, com problemas no abastecimento de água, por exemplo.

O que vale mais?

No ginásio de Caeté, onde aconteceu a audiência pública, faixas de apoio e de reprovação sobre o Projeto Apolo ocupavam as grades da arquibancada. Mais apoio do que reprovação. Caeté vai ser um dos municípios mais beneficiados economicamente com o empreendimento da Vale.

Já em Raposos, a resistência ao projeto da mineradora foi maior. No município, deve ser instalada a barragem de rejeitos, próxima ao Ribeirão da Prata. Nessa região, ainda preservada, Pretendia-se criar um balneário e aproveitar o potencial turístico da área, o que não poderá acontecer se a mina for instalada. “Nós não conseguimos ver nenhum beneficio para Raposos. Vamos ter 5% dos empregos. então teremos 120 empregos. Isso nós já temos no nosso balneário”, afirma Benedito, integrante do Movimento Contra a Barragem de Rejeitos.

Nas duas audiências realizadas, ficou claro que o quê estava sendo discutido ali era benefício econômico versus preservação ambiental. “A discussão que a gente tem que fazer é sobre a construção de novos paradigmas. Se tem um lado econômico, tem um lado ambiental, que é igualmente importante ou até mais”, pondera o coordenador do Projeto Manuelzão, Marcos Vinicius Polignano. Ele afirma ainda que uma empresa não pode propor um projeto e, ao invés de estabelecer um diálogo, querer a oficialização daquilo que ela propôs. “É fundamental a construção de um projeto que atenda a todos os interesses da sociedade, mesmo que, a princípio, eles pareçam conflitantes”, diz.

Abaixo, carta apresentada durante a audiência em Raposos, em defesa do Ribeirão do Prata, escrito por Flávia dos Santos.

Desabafo de um rio

Sou um pequeno rio conhecido como Ribeirão do Prata; Nascido no vale da Serra da Gandarela, que, ao percorrer o vale, entrego todas minha quedas e poços à pequena e pacata cidade mineira de Raposos: Um vale de inúmeras riquezas, fauna, flora e uma beleza indescritível.

Porque logo eu, tão pequeno, que já proporcionei a tantas pessoas  momentos de prazer, onde em meus poços se banham, brincam, aprendem a nadar? Tiveram outros uma infância alegre e ativa em minhas águas geladas e límpidas. Já tivemos vários momentos de felicidades e histórias juntos.

Agora querem que chegue ate a mim, trazida pelas mãos dos homens que deveriam me proteger, uma mineradora que a qualquer custo, sem todos os devidos estudos, sem querer saber o quanto irei sofrer, colocará em mim uma barragem de rejeitos, que será a maior barragem do mundo e eu me tornarei o que? ...Lixo!

Quero sim ser muito conhecido pelas minhas belezas naturais e não pela destruição dos homens. Irei me tornar um rio sem vida, poluído, sem minhas quedas e sem as alegrias que já proporcionei a tantos em dias quentes, que se tornarão cada vez mais quentes, e as pessoas já não poderão contar comigo para aliviá-las nos dias ensolarados; e não mais poderei chegar ao fim do meu percurso entregando ao meu amigo Rio das Velhas minhas águas límpidas, porque eu já não estarei gracioso, límpido e caudaloso; Já não mais terei minha vida, estarei morrendo...

A todos agradeço pelos momentos vividos e aos moradores obrigado por falarem em meu nome e me representarem tão bem. Ainda estou vivo, me ajudem...

Estamos em época de mudanças e conscientização, em que temos que defender o meio em que vivemos por sabermos que o planeta não suporta mais tanta agressão. Deveríamos estar nos preocupando em preservar e manter a natureza em sua forma original e não em destruir o que está intocado. Temos que lutar e defender com todas as nossas forças o nosso maior patrimônio que é o planeta e toda estrutura natural que nele existe e que nos mantém vivos. Não podemos aceitar tal violência contra o nosso planeta e nossas vidas.

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