Reportagem publicada pela Assessoria de Comunicação do Projeto Manuelzão, em sua edição online do dia 20 de janeiro de 2010.
Repórteres: Isadora Marques e Thais Marinho (Estudantes de Comunicação Social da UFMG)
Foto: Isadora Marques
A Serra da Gandarela, que faz parte do complexo do Espinhaço, fica entre a Serra do Curral e a Serra do Caraça. É uma região ainda preservada, com grande diversidade de fauna e flora e mananciais importantes para o abastecimento de municípios próximos. Mas o empreendimento que a Vale pretende implantar vai causar um grande impacto ambiental na região.
Na quinta e sexta passadas, dias 14 e 15, foram realizadas audiências públicas em Caeté e Raposos para discutir o assunto. Nos eventos, a Vale apresentou o Projeto Apolo, uma mina de minério de ferro na serra da Gandarela, nos municípios de Caeté, Raposos, Rio Acima e Santa Bárbara (leia mais na revista 54). O início das obras está previsto para 2011 e a mina, cuja vida útil estimada é de 17 anos, começará a ser explorada em 2014. O projeto ainda está em fase de estudo dos impactos ambientais, parte do processo de licenciamento ambiental que precede o período de implantação.
As audiências públicas foram solicitadas por instituições sociais, como o Projeto Manuelzão, e órgãos públicos, para que o empreendimento fosse apresentado e discutido com as comunidades. A apresentação que a Vale fez deixou algumas questões sem explicação. A empresa mostrou os estudos feitos e, a partir desse diagnóstico, concluiu que o projeto é viável. Mas viável com relação a quê? Do ponto de vista ambiental? Social? Econômico? Ela também afirmou que tentaria evitar ou minimizar os impactos ambientais, mas não esclareceu o que, de fato, será feito para isso.
Nos eventos, houve questionamentos por parte do público presente sobre o processo de realização das audiências. Ao invés delas terem sido realizadas em todos os municípios diretamente impactados, as reuniões aconteceram em apenas dois deles. A Superintendência Regional de Meio Ambiente (Supram) ficou responsável por agendar novas audiências em Rio Acima, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Belo Horizonte. Apesar da mina não estar dentro dos territórios desses dois últimos municípios, eles também podem ser afetados negativamente, com problemas no abastecimento de água, por exemplo.
O que vale mais?
No ginásio de Caeté, onde aconteceu a audiência pública, faixas de apoio e de reprovação sobre o Projeto Apolo ocupavam as grades da arquibancada. Mais apoio do que reprovação. Caeté vai ser um dos municípios mais beneficiados economicamente com o empreendimento da Vale.
Já em Raposos, a resistência ao projeto da mineradora foi maior. No município, deve ser instalada a barragem de rejeitos, próxima ao Ribeirão da Prata. Nessa região, ainda preservada, Pretendia-se criar um balneário e aproveitar o potencial turístico da área, o que não poderá acontecer se a mina for instalada. “Nós não conseguimos ver nenhum beneficio para Raposos. Vamos ter 5% dos empregos. então teremos 120 empregos. Isso nós já temos no nosso balneário”, afirma Benedito, integrante do Movimento Contra a Barragem de Rejeitos.
Nas duas audiências realizadas, ficou claro que o quê estava sendo discutido ali era benefício econômico versus preservação ambiental. “A discussão que a gente tem que fazer é sobre a construção de novos paradigmas. Se tem um lado econômico, tem um lado ambiental, que é igualmente importante ou até mais”, pondera o coordenador do Projeto Manuelzão, Marcos Vinicius Polignano. Ele afirma ainda que uma empresa não pode propor um projeto e, ao invés de estabelecer um diálogo, querer a oficialização daquilo que ela propôs. “É fundamental a construção de um projeto que atenda a todos os interesses da sociedade, mesmo que, a princípio, eles pareçam conflitantes”, diz.
Abaixo, carta apresentada durante a audiência em Raposos, em defesa do Ribeirão do Prata, escrito por Flávia dos Santos.
Desabafo de um rio
Sou um pequeno rio conhecido como Ribeirão do Prata; Nascido no vale da Serra da Gandarela, que, ao percorrer o vale, entrego todas minha quedas e poços à pequena e pacata cidade mineira de Raposos: Um vale de inúmeras riquezas, fauna, flora e uma beleza indescritível.
Porque logo eu, tão pequeno, que já proporcionei a tantas pessoas momentos de prazer, onde em meus poços se banham, brincam, aprendem a nadar? Tiveram outros uma infância alegre e ativa em minhas águas geladas e límpidas. Já tivemos vários momentos de felicidades e histórias juntos.
Agora querem que chegue ate a mim, trazida pelas mãos dos homens que deveriam me proteger, uma mineradora que a qualquer custo, sem todos os devidos estudos, sem querer saber o quanto irei sofrer, colocará em mim uma barragem de rejeitos, que será a maior barragem do mundo e eu me tornarei o que? ...Lixo!
Quero sim ser muito conhecido pelas minhas belezas naturais e não pela destruição dos homens. Irei me tornar um rio sem vida, poluído, sem minhas quedas e sem as alegrias que já proporcionei a tantos em dias quentes, que se tornarão cada vez mais quentes, e as pessoas já não poderão contar comigo para aliviá-las nos dias ensolarados; e não mais poderei chegar ao fim do meu percurso entregando ao meu amigo Rio das Velhas minhas águas límpidas, porque eu já não estarei gracioso, límpido e caudaloso; Já não mais terei minha vida, estarei morrendo...
A todos agradeço pelos momentos vividos e aos moradores obrigado por falarem em meu nome e me representarem tão bem. Ainda estou vivo, me ajudem...
Estamos em época de mudanças e conscientização, em que temos que defender o meio em que vivemos por sabermos que o planeta não suporta mais tanta agressão. Deveríamos estar nos preocupando em preservar e manter a natureza em sua forma original e não em destruir o que está intocado. Temos que lutar e defender com todas as nossas forças o nosso maior patrimônio que é o planeta e toda estrutura natural que nele existe e que nos mantém vivos. Não podemos aceitar tal violência contra o nosso planeta e nossas vidas.











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